08 May
08May

Por Daniel Christian Henrique

Tarifaço ainda em progresso

Após o "Liberation Day" divulgado logo no primeiro dia de abril, pelo presidente Donald Trump, o tarifaço continuou em franco andamento. Os aumentos tarifários dos EUA contra importações da China tiveram um capítulo quase que diário, com "ataques" seguidos de "contra-ataques" da China. Nos finalmentes, a taxa estabilizou nos estratosféricos 145% para importação de parte significativa dos produtos chineses, enquanto que a China "retribuiu" com uma taxa final de 125% sobre as importações de produtos norte-americanos. Algumas exceções pontuais foram efetuadas para que determinados setores não fossem severamente prejudicados. Todavia, uma negociação mais ampla foi agendada para esta semana em Genebra para tentar encontrar um meio termo para a problemática, que se tornou mundial (InfoMoney, Notícias Agrícolas).

O medo ficou no ar

O índice que mensura a expectativa futura do mercado em relação a volatilidade, baseado nas expectativas de compra e venda de opções do S&P500, chama-se VIX. Mas popularmente ficou globalmente conhecido como "índice do medo" . E com o tarifaço dos EUA e possível reconfiguração dos padrões mundiais de vendas, o mercado sentiu o impacto e tremeu, literalmente. O índice VIX bateu os 60 pontos em abril durante as trocas progressivas de aumento de tarifas entre EUA e China, o maior valor desde o auge da pandemia, quando chegou aos 82,69 pontos. O recorde ainda está na crise financeira global de 2008, ao atingir 89,53 pontos (Investopedia).

Ouro marca as manchetes

O eterno ativo de segurança do mundo, o ouro, mais uma vez foi acionado quando o índice VIX bateu nas alturas ao refletir o medo mundial do tarifaço e do contexto geopolítico mundial em constante piora com as guerras na Ucrânia e na palestina em andamento, assim como pela busca de uma maior proteção contra a inflação. Naturalmente, muitos investidores estrangeiros foram reduzindo sua concentração em ativos norte-americanos e diversificando mais seus investimentos pelo mundo, sendo o ouro um destes caminhos. A onça-tray que jamais havia superado a máxima de US$ 3.000 em sua série temporal, chegou ao valor de US$ 3,2 mil após algumas semanas do anuncio do tarifaço (ADVFN, E-investidor(d)). 

O perigo do início de um contrabando em escala global

Alguns exportadores chineses já começaram a fazer um "drible" comercial, através de uma triangulação de suas exportações aos Estados Unidos: enviam seus produtos a países asiáticos vizinhos, para depois levar aos norte-americanos, disfarçando desta forma a origem real dos produtos e não pagando as super tarifas implementadas por Trump (Valor Econômico). Olhando o conjunto de países como um todo que foram afetados, analistas da área têm alertado que esse tarifaço em escala global pode criar um "paraíso do contrabando", ao gerar um forte incentivo à evasão tarifária pelos exportadores de má fé (Exame). 

Petróleo sofre com a volatilidade

E uma das commodities que mais se viu impactada pela forte volatilidade com o conturbado contexto geopolítico mundial destes últimos dois meses foi o barril de petróleo, visto que os EUA e China são seus maiores consumidores. Assim, o barril veio em ritmo de baixa ao longo de março e abril, chegando ao seu menor valor dos últimos 4 anos. Somado a isso, a OPEP+ decidiu expandir a produção, gerando maior oferta no mercado mundial, contribuindo ainda mais para queda no seu preço. Finalmente, o barril tipo Brent fechou abril com o valor de US$63,12, enquanto o tipo WTI regressa para US$59,71 - contabilizando uma baixa de aproximadamente 20% ao longo de março e abril e registrando o menor patamar desde novembro de 2021 (Arme, O.E., UDOP, Visão Agro)

Na B3, quem se lascou com a baixa foi o setor de energia, em especial a Petrobras que em abril viu os preços das suas ações ordinárias caírem 18% e as preferenciais baixarem 15%. Alguns analistas não vêm muito drama nesta baixa, com potencial de retomada de seus preços quando a volatilidade amenizar (InfoMoney(d)).

Minério de ferro caiu mas está na média do ano

Com as tarifas sobre as importações de aço e ferro sobre o Brasil, assim como aplicado a outros países do mundo, jogou-se um balde de água fria também sobre o minério de ferro - outra commodity de grande relevância nas exportações do país. As cotações do minério de ferro apresentou baixas relevantes após os anúncios das taxações e manteve ritmo de baixa (Trading Economics, InfoMoney(e),  InfoMoney(f), CNN Brasil(d)). Mas olhando a média do começo do ano, pouca mudança teve - pois voltou próximo a US$100 t que demarcava em começo de janeiro. Isso se deve muito pelo fato da China ser um demandante resiliente do minério de ferro, sendo os americanos coadjuvantes, estabilizando os preços - ao menos no curto prazo (UOL Economia, InfoMoney(g)). 

Todavia, a baixa dos dois meses não deixou intacta a Vale (VALE3), registrando em abril perdas de aproximadamente 7% frente aos temores do mercado do impacto da demanda da China nos preços do aço e consequente nas cotações do minério de ferro e de suas empresas produtoras. Piorou a situação o seu resultado financeiro divulgado, apresentando lucro 17% menor em relação ao período imediatamente anterior - resultante dos ganhos menores oriundos da baixa da minério de ferro, principal insumo para produção de aço (Forbes(b), Suno, Economatica).

Ibov surfou na volatilidade

O índice representativo da B3, o Ibov, apresentou valores positivos em ambos meses: ganhos de 6,08% em março (o melhor percentual desde agosto) e de 3,69% em abril. Dentre alguns motivos, o principal foi o índice conseguir "surfar" na alta volatilidade dos mercados mundiais advindos da guerra comercial, levando os investidores estrangeiros aos mercados emergentes e europeus, frente ao medo da chegada de recessão nos EUA. Durante o mês de março o Goldman Sachs projetou uma probabilidade de 35% da recessão chegar, subindo um mês depois para uma percentual de 45% e espantando ainda mais a turma. Cabe a ressalva que alguns resultados muito bons nos demonstrativos financeiros também auxiliaram na forte alta de março (Forbes, InfoMoney(c), E-investidor(c), CNN Brasil(c), E-investidor(d)) Logo o Ibov, que vinha desde o ano passado se despedindo dos gringos consecutivamente, mês a mês, se beneficiou agora das turbulências ocorridas por lá com retorno parcial aos investimentos em nossa bolsa tupiniquim.

Produção industrial em alta

Em meio a tantas notícias de medo e receio mundial, o Brasil conseguiu mais um destaque positivo (além das altas do Ibov) no período: a produção industrial cresceu 1,2% em março em comparação a fevereiro - a maior alta em nove meses. No acumulado em 12 meses chegou a 3,1%. Esse valor fica relevante ao se fazer um comparativo: equivale a 2,8% acima do período pré-pandemia. Dentre as 25 divisões industriais analisadas pela pesquisa do IBGE, 16 contabilizaram aumentos, com destaque a divisão de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (+3,4%), seguido em segundo lugar das indústrias extrativas (+2,8%), e em terceiro lugar para produtos farmoquímicos e farmacêuticos (+13,7%), finalizando a quarta colocação para a fabricação de veículos automotores, reboques e carrocerias (+4,0%) (Gazeta do Povo(b), Agência IBGE(b)).

O GPFA já vem monitorando estatisticamente essa evolução da indústria e seus salários entre o período pré-pandemia e o período pandêmico. Acesse nossos informes para cada região geográfica do país clicando nos links a seguir: REGIÃO SUDESTE, REGIÃO NORDESTE, REGIÃO SUL, REGIÃO NORTE. Informe da região CENTRO-OESTE em desenvolvimento. Adiante ainda faremos um comparativo entre o período pandêmico e o atual pós-pandêmico.

Inflação ainda com foco nos alimentos

No mês de março a inflação mensurada pelo IPCA alcançou 0,56%, com leve redução pela prévia de abril (IPCA-15), com previsão de 0,43%. Março continuou pressionado pelas altas dos alimentos que já vinha dos meses anteriores, novamente com o tomate, ovos e café liderando mais uma vez os maiores aumentos, com altas respectivamente de 22,6%, 13,1% e 8,1% (Agência IBGE, CNN Brasil(a))

Superávit da balança comercial além das expectativas

Em março algo não esperado nas previsões dos analistas e economistas aconteceu: o segundo melhor registro da série histórica para o mês foi alcançado no saldo da balança comercial: superávit de de US$8,15 bilhões, resultante de US$29,178 bilhões nas exportações contra US$21,023 bilhões de importações (Diário do Comércio).

Bacen, Fed e BCE: segue o fluxo

Mantendo as altas que já vinham se acumulando desde dezembro, o Bacen, via Copom, aprovou novos aumentos em suas reuniões de março e nesta última de ontem na super-quarta deste mês de maio. Os finalmentes são: a taxa está em 14,75% a.a - o maior registro desde 2006. As justificativas, as mesmas: inflação segue acima da meta estipulada, contexto geopolítico e comercial mundial muito nebuloso... (BCB, Isto é Dinheiro, UOL Economia). Concluem: o seguro, então, é desacelerar a economia. Portanto, o Copom segue o fluxo.

Do outro lado dos continentes americanos, nos EUA, o Fed deu sequência em março e abril na manutenção da sua taxa básica mantendo-a na banda de 4,25% a 4,50% a fim de estudarem melhor a magnitude dos impactos das super tarifas governamentais no mercado (Money Times). Mas quem não gostou nada disso foi o próprio presidente Trump, que ao longo de abril fez várias ameaças de demissão ao chair do Fed, Jerome Powell - porém rapidamente desfazendo posteriormente o "mal entendido" (CNN Brasil(c)). Portanto, Fed segue o fluxo.

O fluxo do BCE, por sua vez, era outro: o ritmo de baixa. Em abril efetivaram o sétimo corte seguido de juros, alcançando 2,25%, frente ao processo de desinflação ainda em curso. As justificativas vieram em sintonia com o início da guerra comercial empreitada entre EUA e China, principalmente, além dos países europeus diretamente atingidos, podendo reduzir a confiança nos investimentos das empresas e das famílias, assim como maiores apertos nas condições de financiamentos. Portanto, BCE segue o fluxo (European Central Bank, Euro News).

E o mundo crescerá menos

Os efeitos do tarifaço dos Estados Unidos não ficarão isolados aos principais países do mundo que foram mais severamente atingidos. Recálculos do Fundo Monetário Internacional (FMI) em seu relatório de Perspectiva Econômica Global, preveem que com o início da guerra comercial imersa em um cenário altamente imprevisível, o mundo crescerá menos 0,5 ponto percentual em 2025, chegando a somente 2,8%; já para 2026, o regresso será de 0,3 ponto percentual, finalizando em crescimento de apenas 3% (FMI, CNN Brasil(b))

O Brasil não ficou de fora das projeções mais pessimistas, com redução da projeção pelo fundo de 2,2% para 2,0% em 2025 e 2026. Explicitaram que este percentual não sinaliza uma previsão de recessão a vista, mas necessita de políticas econômicas sóbrias, incentivando os investimentos e a produtividade (Gazeta do Povo(a)).

Desemprego em baixa e rendimento em alta

Outra boa notícia divulgada pelo IBGE através de sua Pesquisa Nacional por Amostras de Domicílio Contínua (Pnad) para o período de fechamento do primeiro trimestre foi o recorde atingido na taxa média de desemprego ao alcançar 7%, o menor da sua série histórica. Nessa metodologia inclui trabalho com ou sem carteira assinada, assim como trabalhos temporários ou por iniciativa própria. Somado a isto, renovou-se outro recorde da própria pesquisa: o rendimento médio mensal dos trabalhadores passou de R$ 3.401 no trimestre móvel finalizado em fevereiro para R$ 3.410 no trimestre encerrado em março (Agência Brasil (b)).

A aposentadoria de uma lenda

Logo bem nesse começo de maio, um anuncio pegou de surpresa o mundo dos investidores: a aposentadoria do lendário Warren Buffet aos 94 anos, que deixará o cargo de CEO da Berkshire Hathaway até o final deste ano. Assumirá seu lugar o vice-presidente Gregory Abel. Seu patrimônio acumulado foi, nada mais, nada menos, que US$ 168,2 bilhões (E-investidor(a), E-investidor(b)). Alguma coisa de investimentos ele deve saber!

Vem aí um "Super Educacional"

E volta em abril o rumor de fusão entre as duas gigantes do setor educacional brasileiro: Cogna e Yduqs. Os presidentes dos conselhos de ambos conglomerados estão com conversas em andamento. O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) já havia barrado essa tentativa de fusão alguns anos antes (InfoMoney(b)), mas com as mudanças nas finanças e no mix das empresas, assim como na estrutura do mercado, podem ser pontos relevantes agora para uma possível aprovação.

Referências: ADVFN, Agência IBGE(a), Agências IBGE(b), Agência Brasil, Arme, BCB, CNN Brasil(a), CNN Brasil(b), CNN Brasil(c), CNN Brasil(d), Diário do Comércio, Economatica, E-investidor(a), E-investidor(b), E-investidor(c), E-investidor(d), Euro News, Exame, Forbes(a), Forbes(b), FMI, Gazeta do Povo(a), Gazeta do Povo(b), InfoMoney(a), InfoMoney(b), InfoMoney(c), InfoMoney(d), InfoMoney(e), InfoMoney(f), InfoMoney(g), Investopedia, Money Times, Notícias Agrícolas, O.E., Suno, Trading Economics, UOL Economia(a), UOL Economia(b), UDOP, Valor Econômico, Visão Agro.

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