12 Dec
12Dec

Por Daniel Christian Henrique e Ivan Aune de Aguiar Filho (bolsista de extensão Probolsas)

O Decreto 399 de 1938 estipula a quantidade diária para provisão mínima de cada tipo de alimento na cesta básica por regiões do país. Dentre todos alimentos, o tomate contabiliza a maior quantidade em quilos em todas regiões, variando entre 9 kg e 12 kg. Portanto, é de se esperar antecipadamente que suas oscilações de preço do tomate interfiram nas flutuações dos preços da cesta básica. 

O acompanhamento mensal dos boletins do Dieese nos permitiu atentar a existência dessa relação para a cidade de São Paulo, até mesmo com certa rotina. Isto posto, advém os objetivos deste estudo (CLIQUE AQUI PARA LER MAIS sobre a metodologia da cesta básica do Dieese):

- Quantificar as posições (primeiro, segundo e terceiro lugares) em que variação percentual do preço do tomate foi o alimento com maiores altas ou baixas dentro da composição da cesta básica paulistana;

- Averiguar o grau de impacto das flutuações do preço do tomate nos preços das cestas básicas da cidade de São Paulo.

Para atingimento destes propósitos, foram coletados os dados dos preços das cestas básicas da capital paulista no Dieese (Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos) e dos preços do tomate (tipo Salada 3A AT) no Cepea Esalq/USP dentre o período de março de 2016 a novembro de 2023 - totalizando 91 meses para as análises.

Pelo fato do tomate ser um legumes altamente perecível, considerou-se apenas os dados contemporâneos para as análises de relação entre os preços deste com os das cestas básica, sem a necessidade de defasagens. Como metodologia de relação entre as variáveis, utilizou-se a regressão simples, sendo estas:- Preço da Cesta Básica na capital paulista - variável dependente (Y);- Preço do tomate na capital paulista - variável independente (X);

Contabilização das posições do tomate entre as maiores altas e baixas

Para contabilizar o número de vezes em que o tomate obteve as maiores ou menores variações dentre os alimentos que compõem a cesta básica paulistana, criou-se uma escala de 1 a 13 sendo esta:

- 1: o tomate obteve a maior queda de preço dentre os alimentos da cesta paulistana;

- 2 a 12: escalas intermediárias progressivas da posição do tomate entre as baixas e altas dos preços dos alimentos da cesta básica paulista;

- 13: o tomate obteve a maior alta de preço dentre os alimentos da cesta paulistana.

Importante ressaltar aqui que na metodologia abordada pelo Dieese é considerado aditivamente outras variedades de tomate, e não somente a do tipo Salada 3A AT. Os resultados foram:

Escala
3 maiores ALTAS do tomate
Escala
3 maiores BAIXAS do tomate
Escala 13
23 meses
Escala 1
22 meses
Escala 12
6 meses
Escala 2
18 meses
Escala 11
3 meses
Escala 3
2 meses
TOTAL
32 meses
TOTAL
42 meses


O peso que o tomate detêm na cesta paulistana pôde facilmente ser verificado no percentual de meses em que este legume foi o primeiro colocado dentre todos alimentos com maior alta ou baixa da cesta (soma das Escalas 13 e 1): 45 meses ou 49,5% do total de meses analisados. 

Em resumo: na metade dos meses analisados o tomate foi o líder dentre os alimentos da cesta básica paulistana que obteve a maior alta ou a menor baixa. Contabilizando as 3 maiores altas e as 3 maiores baixas percentuais, o tomate esteve nestas posições em 81,3% dos meses.

Influência das flutuações dos preços do tomate nos preços da cesta básica paulistana

Para atingir este segundo objetivo, foi realizada uma regressão simples entre o par de séries temporais, testando as métricas: linear, exponencial, logaritmo natural, potência e polinomial de segundo grau. Cabe destacar que neste momento analisou-se apenas o Tomate Salada 3A AT (um dos tipos mais consumidos no Brasil), não correspondendo, portanto, exatamente às variações dos preços mensais do tomate do objetivo 1, o qual estão embutidos outras variedades nos cálculos do Dieese. Para escolha do modelo mais adequado, abordou-se dois critérios:

1 - Observação dos maiores R2

2 - Dentre os modelos com maior R2, escolher-se-ia o que obtivesse as menores métricas de erro EAM (Erro Absoluto Médio), EQM (Erro Quadrático Médio) e EPAM (Erro Percentual Absoluto).

Os conjuntos de R2 obtidos foram:

Os conjuntos de R2 obtidos foram:

EquaçãoR2
Reta53,46%
Polinomial53,68%
Exponencial53,06%
Logaritmo Natural51,67%
Potência51,97%

R2 = grau de ajuste do modelo

Decorrido os maiores valores para os modelos de reta, polinomial e exponencial, testou-se em sequência o conjunto de métricas de erro apenas para estes três pré-selecionados:


EAMEQMEPAM
Reta71,87417998,67590,2794
Polinomial71,32147961,500112,6652
Exponencial73,32578308,390612,6272

 EAM: Erro Absoluto Médio; EQM: Erro Quadrático Médio; EPAM: Erro Percentual Absoluto Médio

Finalmente, constata-se que o modelo polinomial de ordem 2 foi o ganhador, por obtenção do melhor R2 e duas métricas de erro com menores valores. O seu gráfico de dispersão com a equação da reta são vistos a seguir:

O modelo polinomial gera maiores dificuldades para análise da normalidade de seus resíduos, em comparação ao modelo de reta, por exemplo. Decorrida a problemática, utilizou-se uma inspeção visual e contagem da distribuição dos resíduos abaixo e acima do eixo zero, conforme gráfico e dados em sequência:

Contagem
Resíduos +47
Resíduos -44

Conclui-se que apesar de uma leve formação dos resíduos entre os valores R$ 400,00 e 500,00 das vendas preditas, de forma geral há uma boa distribuição ao redor do eixo zero, com aproximadamente 50% dos dados acima ou abaixo de zero e sem outras maiores aglomerações, possibilitando utilizar a equação de predição (com parcimônia).

A equação preditiva permite afirmar que para cada R$1,00 de aumento (ou queda) do preço do tomate, gera-se um aumento (ou queda) de R$5,11 no preço da cesta básica paulistana. 

Portanto, o tomate tornou-se um alimento de "risco" na cesta básica paulistana, pois aparece entre as 3 maiores posições de baixa ou de alta em seus preços em 81,3% dos meses analisados e, quando cai o preço, ótimo! Resulta em uma queda significativa do preço da cesta (R$ 5,11 para cada R$ 1,00 de baixa do tomate). Mas quando sobe... a elevação é expressiva do preço da cesta (o oposto da baixa). 

Fica a questão: será que tamanho peso do tomate (ou quantidade) na cesta está valendo a pena? Trocá-lo por algum outro legume também nutritivo e não tão influenciável a variações de preço poderia ser uma boa alternativa para as previsões financeiras das famílias de baixa renda, principalmente.

Frente aos achados do estudo, agora é torcer para as mudanças climáticas não afetarem demasiadamente as colheitas de tomate paulistanas para não disparem os preços e, consequentemente, os preços de sua cesta básica.

Referências: Dieese (a), Dieese (b), Dieese (c), Cepea Esalq/USP

Como citar este informativo? (padrão ABNT)

HENRIQUE, Daniel Christian; AGUIAR-FILHO, Ivan Aune. Tomate: o "influenciador" da cesta básica paulistana. 2023. Desenvolvido por GPFA - Grupo de Pesquisa em Finanças Analíticas. Disponível em: https://www.gpfa.com.br/informes/tomate-cesta-basica-sp-1. Acesso em: (data de seu acesso ao site).

Comentários
* O e-mail não será publicado no site.