01 Jul
01Jul

Por Gabriel Dudena de Faria (bolsista Probolsas) e Daniel Christian Henrique

O custo de vida no brasil continua a aumentar neste período de retomada das atividades presenciais com amenização da pandemia, causada pelo COVID-19. O gás de cozinha (GLP) e a Cesta Básica que já vinham de aumentos constantes desde 2017, chegou ao seu maior aumento médio anual em 2021. (DIEESE, 2022). 

O DIEESE desenvolveu um cálculo chamado Salário Mínimo Necessário, no qual contabiliza o valor que realmente seria necessário receber de salário mínimo para que uma família de 4 pessoas (2 adultos e 2 crianças) consiga arcar com os custos mensais de alimentação baseadas na cesta básica.

DataSalário mínimo necessário médioSalário mínimo nominalSalário mínimo nominal / necessário
2012R$ 2.463,81R$ 622,0025,25%
2013R$ 2.765,33R$ 678,0024,52%
2014R$ 2.925,16R$ 724,0024,75%
2015R$ 3.280,75R$ 788,0024,02%
2016R$ 3.875,13R$ 880,0022,71%
2017R$ 3.744,52R$ 937,0025,02%
2018R$ 3.755,25R$ 954,0025,40%
2019R$ 4.135,85R$ 998,0024,13%
2020R$ 4.717,49R$ 1.045,0022,15%
2021R$ 5.558,91R$ 1.100,0019,79%
2022R$ 6.338,76R$ 1.212,0019,12%


Pode-se observar na tabela acima que há dez anos atrás, o salário mínimo nominal era apenas 25% do salário mínimo necessário, e esse percentual ficou nesta baixa faixa percentual até aproximadamente 2019, mas desde o início do período de pandemia da COVID-19, estabeleceu já patamar de baixa ainda mais acentuado, apresentando atualmente um percentual de 19,1%. 

A contrapartida disto são os preços dos alimentos que compõem a cesta básica nacional, chegando a aumentos de 26,75% nos últimos 12 meses, conseguindo a façanha de ser o dobro do IPCA 11,73% do período, já considerado elevado. Estes dados são do estudo do economista Jackson Teixeira Bittencourt da PUC-PR (ISTOÉ DINHEIRO). Algumas capitais chegaram a passar do 6% de aumento de março para abril como Campo grande e Porto alegre, seguidos por Florianópolis, São Paulo e Curitiba. São Paulo angariou a cesta básica mais cara seguida por Florianópolis e Porto Alegre (AGÊNCIA BRASIL, 2022)             

O consumo da cesta básica de alimentos tem como pré-requisito preencher o ciclo alimentar do dia da família, o que incluí almoço e jantar, que precisam ser cozinhados. Portanto a compra do botijão de gás 13kg é outro item essencial a ser incluído nesta relação com o salário mínimo. Esses aumentos do GLP também vêm trazendo um peso a mais para a carteira mensal do brasileiro. Até junho de 2022 houve uma elevação de 20% em relação ao ano anterior, classificando-se como o segundo maior da última década, apenas sendo superado por 2021 - com um aumento de 30%.             

O Grupo de Finanças Analíticas da UFSC já pesquisou em outro informe científico o impacto que o aumento do GLP está trazendo sobre o salário mínimo nominal nas quatro maiores cidades do estado de Santa Catarina, um custo equivalente à 11,92% em 2022 (considerando o preço máximo encontrado para o botijão) em Balneário Camboriú. Na tendência atual, os números não param de subir desde 2019 (GPFA,  2022)             

Portanto, o objetivo central deste informe científico foi averiguar o comprometimento que os preços do botijão de gás 13kg (GLP) e da Cesta Básica (R$), separadamente e em conjunto (GLP+CB), incorrem no Salário mínimo (R$) (SM) nos últimos 10 anos e 5 meses nas capitais dos estados da região sul do Brasil. Todas as séries temporais coletadas são de janeiro de 2012 a maio de 2022. Aquelas que eram mensais foram passados para anuais pela métrica de médias simples. As séries temporais dos preços do Salário Mínimo (nominal) e da Cesta Básica nas três capitais foram coletados no DIEESE (2022). Os preços do botijão de gás de 13kg, GLP, por sua vez, foram obtidos na ANP (2022).

Florianópolis

Ano Cesta Básica Variação %Salário MínimoVariação %Preço médio GLPVariação %GLP + CBVariação %
2012R$ 273,81
R$ 662,00
R$ 43,65
R$ 317,45
2013R$ 300,809,86%R$ 678,002,42%R$ 44,511,97%R$ 345,318,78%
2014R$ 344,6714,58%R$ 724,006,78%R$ 45,612,47%R$ 390,2813,02%
2015R$ 382,1810,88%R$ 788,008,84%R$ 50,5210,77%R$ 432,7010,87%
2016R$ 448,0117,22%R$ 880,0011,68%R$ 56,4011,64%R$ 504,4116,57%
2017R$ 431,46-3,69%R$ 937,006,48%R$ 60,146,63%R$ 491,61-2,54%
2018R$ 435,090,84%R$ 954,001,81%R$ 70,2116,74%R$ 505,312,79%
2019R$ 472,488,59%R$ 998,004,61%R$ 71,091,25%R$ 543,577,57%
2020R$ 543,0314,93%R$ 1.045,004,71%R$ 75,536,25%R$ 618,5613,80%
2021R$ 659,7721,50%R$ 1.100,005,26%R$ 98,5430,46%R$ 758,3122,59%
2022*R$ 741,7412,42%R$ 1.212,0010,18%R$ 118,2019,95%R$ 859,9413,40%
MÉDIA 10,71% 6,28%  10,81% 10,69%

*até o mês de maio.  Fonte: Adaptado de ANP (2022); DIEESE (2022)

Nesse gráfico acima vê-se a progressão de todos os fatores em relação ao ano anterior. Observa-se que até 2018 que houve um aumento considerável do GLP, chegando a 17%. Mas em 2021 dobrou seu maior patamar anterior, chegando a 30% de aumento. Este ano de 2022, somente neste acumulado até maio, já contabiliza um aumento de 20% em relação ao ano anterior, portanto poderá ser facilmente batido o recorde de 2021 até o fim do anoNo caso da Cesta básica também se contabilizou um aumento significativo, chegando aos 21% em 2021, enquanto que o salário mínimo ainda resiste passar dos 10%, fazendo assim uma visível tendência de retração do poder de compra dos trabalhadores da cidade de Florianópolis em relação a alimentação básica, principalmente em família de classes mais baixas. 

A seguir, a representatividade percentual da cesta básica e do gás de cozinha no salário mínimo na última década

Ano(GLP + CB) /SMCB/SMGLP/SM
201247,95%41,36%6,59%
201350,93%44,37%6,56%
201453,91%47,61%6,30%
201554,91%48,50%6,41%
201657,32%50,91%6,41%
201752,47%46,05%6,42%
201852,97%45,61%7,36%
201954,47%47,34%7,12%
202059,19%51,96%7,23%
202168,94%59,98%8,96%
2022*70,95%61,20%9,75%

A seguir, as mesmas análises para as capitais do Paraná e Rio Grande do Sul, dispostos somente em tabelas e gráficos.

Curitiba

Ano Cesta Básica Variação %Salário MínimoVariação %Preço médio GLPVariação %GLP + CBVariação %
2012R$ 264,13
R$ 662,00
R$ 36,69
R$ 300,83
2013R$ 291,9210,5%R$ 678,002,4%R$ 37,993,5%R$ 329,919,7%
2014R$ 315,738,2%R$ 724,006,8%R$ 39,012,7%R$ 354,747,5%
2015R$ 358,3113,5%R$ 788,008,8%R$ 47,4921,7%R$ 405,8014,4%
2016R$ 412,9415,2%R$ 880,0011,7%R$ 55,2316,3%R$ 468,1815,4%
2017R$ 390,16-5,5%R$ 937,006,5%R$ 55,490,5%R$ 445,64-4,8%
2018R$ 400,642,7%R$ 954,001,8%R$ 65,1917,5%R$ 465,834,5%
2019R$ 435,298,6%R$ 998,004,6%R$ 65,250,1%R$ 500,547,5%
2020R$ 506,5816,4%R$ 1.045,004,7%R$ 67,092,8%R$ 573,6614,6%
2021R$ 604,9319,4%R$ 1.100,005,3%R$ 89,7933,8%R$ 694,7321,1%
2022*R$ 688,8013,9%R$ 1.212,0010,2%R$ 104,0415,9%R$ 792,8514,1%
MÉDIA 10,29% 6,28%  11,48% 10,40%

*até o mês de maio. Fonte: Adaptado de ANP (2022); DIEESE (2022)

Ano(GLP + CB) /SMCB/SMGLP/SM
201245,44%39,90%5,54%
201348,66%43,06%5,60%
201449,00%43,61%5,39%
201551,50%45,47%6,03%
201653,20%46,93%6,28%
201747,56%41,64%5,92%
201848,83%42,00%6,83%
201950,15%43,62%6,54%
202054,90%48,48%6,42%
202163,16%54,99%8,16%
2022*65,42%56,83%8,58%


Porto Alegre

Ano Cesta Básica Variação %Salário MínimoVariação %Preço médio GLP Variação %GLP + CBVariação %
2012R$ 286,32
R$ 662,00
R$ 39,95
R$ 326,27
2013R$ 318,8011,3%R$ 678,002,4%R$ 44,1310,5%R$ 362,9311,2%
2014R$ 340,526,8%R$ 724,006,8%R$ 43,83-0,7%R$ 384,365,9%
2015R$ 381,6012,1%R$ 788,008,8%R$ 50,0214,1%R$ 431,6212,3%
2016R$ 452,7318,6%R$ 880,0011,7%R$ 58,4716,9%R$ 511,2018,4%
2017R$ 445,72-1,5%R$ 937,006,5%R$ 61,705,5%R$ 507,42-0,7%
2018R$ 441,02-1,1%R$ 954,001,8%R$ 68,4110,9%R$ 509,440,4%
2019R$ 475,767,9%R$ 998,004,6%R$ 69,251,2%R$ 545,007,0%
2020R$ 538,2113,1%R$ 1.045,004,7%R$ 70,141,3%R$ 608,3411,6%
2021R$ 653,4121,4%R$ 1.100,005,3%R$ 92,3931,7%R$ 745,8022,6%
2022*R$ 730,5611,8%R$ 1.212,0010,2%R$ 110,8420,0%R$ 841,4012,8%
MÉDIA 10,05% 6,28%  11,14% 10,15%

*até o mês de maio. Fonte: ANP (2022); DIEESE (2022)

Ano(GLP + CB) /SMCB/SMGLP/SM
201249,29%43,25%6,04%
201353,53%47,02%6,51%
201453,09%47,03%6,05%
201554,77%48,43%6,35%
201658,09%51,45%6,64%
201754,15%47,57%6,58%
201853,40%46,23%7,17%
201954,61%47,67%6,94%
202058,21%51,50%6,71%
202167,80%59,40%8,40%
2022*69,42%60,28%9,15%


CONCLUSÕES 

1 – Desde 2019 as três capitais do sul apresentam consecutivos aumentos dos preços de suas cestas básicas e do botijão de gás 13 kg 

2 – Em Florianópolis, o comparativo dos preços do ano de 2012 com 2022 apresenta uma elevação de 171% para o valor da cesta básica, assim como para o botijão de gás - enquanto o salário mínimo aumentou apenas 83% neste mesmo período. Esta foi a maior discrepância registrada dentre as três capitais para entre a cesta básica e o salário mínimo. 

3 – Porto Alegre, por sua vez, foi a capital que contabilizou a maior diferença percentual de elevação do botijão de gás com o salário mínimo no comparativo de preços de 2012 com 2022. O GLP registrou alta de 177%, enquanto o salário mínimo aumentou 83%. 

4 - A maior média da variação de alta dentre 2012 a 2022 dos preços do botijão de gás 13 kg foi conferida para Curitiba, contabilizando uma média de 11,48% ao ano. 

5 - Já a maior média da variação de alta dentre 2012 a 2022 dos preços da cesta básica foi obtida por Florianópolis, registrando 10,71% de elevação média ao ano. 

6 - O aumento médio do salário mínimo entre 2012 a 2022 foi de 6,3% ao ano. Os aumentos médios da cesta básica + gás de cozinha foram de 10,7% para Florianópolis, 10,4% para Curitiba e de 10,2% para Porto Alegre, registrando uma expressiva perda do poder de compra do salário mínimo nestas capitais. 

7 - Essa perda de poder de compra pode ser vista na representatividade percentual dos preços da cesta básico + botijão de gás no salário mínimo do trabalhador. Florianópolis tem o maior comprometimento dos rendimentos do trabalhador, alcançando 70,95% do seu salário mínimo, seguido de perto por Porto Alegre com 69,42% e, finalmente, Curitiba com 65,42%. 

8 – Em 2022, até maio, Florianópolis vem despontando como a capital do sul que registra o preço mais alto para a cesta básica (R$ 741,74), gás de cozinha (R$118,20) e consequentemente do conjunto cesta básica + gás de cozinha (R$859,94) na série iniciada em 2012

Referências: 

ANP. Série histórica do levantamento de preços Acesso em 23 de junho de 2022 

ISTOÉ Dinheiro. Inflação da cesta básica sobe quase 27% em 12 meses, mais que o dobro do IPCA Acesso em 23 de junho de 2022 

AGÊNCIA BRASIL. Custo da cesta básica aumenta nas 17 capitais pesquisadas pelo Dieese Acesso em 23 de junho de 2022 

DIEESE. Salário mínimo nominal e necessário Acesso em 23 de junho de 2022 

DIEESE. Banco de dados Cesta Básica de Alimentos Acesso em 23 de junho de 2022 

IPEA. Salário mínimo real Acesso em 23 de junho de 2022 

GPFA. Comprometimento do Salário mínimo com o Botijão de fás em quatro municípios de Santa Catarina: um crescimento insustentável  Acesso em 27 de junho de 2022

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