11 Jul
11Jul

Por Daniel Christian Henrique

- A lambança do aumento do IOF 

Em maio o governo anunciou um aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), passando a vigorar a alíquota de 1,95% a.a. (sendo 0,88% anteriormente) para operações de crédito, seguros e câmbio a fim de tentar bater as metas do arcabouço fiscal. Não durou muito. Em junho a Câmara dos Deputados derrubou com certa facilidade os decretos que fomentavam os aumentos arrecadatórios via elevação do IOF. Também não durou muito. O governo tão logo foi ao Supremo Tribunal Federal (STF) que por sua vez agendou audiências entre as partes. Discussões estão em andamento. (Extra, Fecomercio SP, Câmara dos Deputados, CNN Brasil(c)).

- Selic: o segundo maior juro real do mundo

E a Selic chegou na decisão de junho do Copom no maior patamar desde maio de 2006: 15% a.a. Galípolo e a turma do Copom foram unânimes na decisão, aparentando não haver reflexos políticos até o momento em mais este aperto monetário – que já emenda a sétima alta em sequência, além de anunciar possíveis novos ajustes futuros necessários (CNN Brasil(a)). 

Com essa decisão, a taxa de juros básica da economia nacional arrematou o segundo maior juro real do mundo (9,53%), ou seja, aquele descontada a taxa de inflação. Perdeu apenas para a Turquia e está sendo seguido de perto pela Rússia em terceiro lugar (Exame)

- Estourou o teto da inflação com mensuração contínua

Se o BC está no encalço da inflação com a nova elevação da Selic, como ficou, então, o IPCA? Maio foi bem, contabilizando 0,26% e mantendo as seguidas desacelerações iniciadas em março - mesmo com a alta tarifária da energia de 3,62% aplicada pela Aneel - Agência Nacional de Energia Elétrica (UOL Economia).

E ontem saiu o resultado da inflação de junho. Quase um copiar-colar de maio, mas reduzindo levemente: 0,24%, sendo a conta de luz novamente o maior responsável pela alta (Agência IBGE(b)).

E como ficou, portanto, a meta inflacionária? Desde o começo deste ano, o Brasil começou a seguir padrões internacionais na apuração de sua meta de inflação, mensurando-a de forma contínua. Neste novo critério, a dita cuja não poderia ultrapassar 4,5% (valor do teto) por seis meses consecutivos. Mas em junho atingiu a soma de 5,35% no IPCA dentro dos temerosos seis meses desde janeiro quando o índice passou pela primeira vez o referido limite, furando o teto (Agência Brasil(b)).

- Produção industrial cai novamente 

E o mês de maio contabilizou nova queda da produção industrial, recuando 0,5%. O principal motivo foi a retração dos investimentos movidos pelas incertezas globais e ambiente doméstico instável. Para fechar o pacote, a Selic chegando aos 15% deixou ainda mais caro o crédito ao empresariado. Os segmentos industriais que mais puxaram para baixo o percentual foram os dos veículos automotores, reboques e carrocerias (-3,9%), junto a coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (Firjan, Agência IBGE). 

- O lado bom: mercado de trabalho fica aquecido 

Se a produção industrial recuou, por outro lado, a taxa de desemprego foi bem, batendo também seu recorde e chegando a 6,2% no trimestre findado em maio. Este é o menor registro para o mesmo mês da sua série histórica (início em 2012), sendo ainda 0,6 ponto percentual a menos que o trimestre anterior. Somado a esse dado, outros vêm junto na pesquisa e também alcançando seus valores máximos históricos: número de empregados com carteira assinada, menor nível de desalentados, massa salarial do país e o rendimento do trabalhador (Agência Brasil(a), CNN Brasil(b)).

- Mas as vendas no varejo apontaram queda 

No mês de maio, as vendas tiveram uma leve retração, conferindo -0,1% pelo Índice de Varejo Stone e -0,2% de acordo com pesquisa do IBGE. Ingressando em junho, o percentual de baixa foi muito mais expressivo: -4,2% pelo Índice de Varejo Stone, chegando a -4,6% quando comparado ao mesmo mês do ano passado. Tais resultados são reflexos da queda do volume de vendas em todos os oito segmentos analisados pelo indicador (MoneyTimes(a), MoneyTimes(b), Mercado & Consumo). 

Portanto, se o mercado de trabalho está com baixo índice de desemprego mas as vendas no varejo sinalizaram retração, assim como a produção industrial, há um forte indicativo de que a economia está desaquecendo. Analistas do índice Stone apontam o alto endividamento das famílias brasileiras como principal motor desta desaceleração econômica (MoneyTimes(b)). 

Claro, Selic alcançando o patamar de 15%, configurando o segundo maior juro real do mundo da atualidade, tem sua parcela de contribuição. Este é, inclusive, o foco da elevação dos juros pelo Banco Central. O ciclo de alta iniciado à algumas reuniões anteriores começam a gerar seus efeitos defasados, mesmo com os estímulos governamentais atuando em sentido contrário para aquecer a economia. 

- Ibovespa ficou de boa 

Em maio o índice representativo da bolsa brasileira fechou com leve alta de 1,45%, arrebanhada pelo ingresso de recursos estrangeiros, expectativa de estabilização dos juros e sinais de recuperação da economia. O ingresso de capital externo na B3 totalizou R$ 10,66 bilhões – o maior valor desde dezembro de 2019. O total de 2025 até maio contabilizou 21,5 bilhões - revertendo parte significativa do fluxo de saído dos gringos da nossa bolsa no ano passado (E-investidor(a), MoneyTimes(c)).

E mesmo com a divulgação da nova elevação da Selic, junho seguiu o mesmo ritmo, com alta do Ibovespa em 1,33%. Motivo: foi puxado pela Petrobrás que obteve ganhos com as altas do barril de petróleo que ocorreram devido o acirramento da guerra entre Israel e Irã, assim como com os ataques dos EUA às usinas nucleares iranianas (E-investidor(b)).

Referências: Agência Brasil(a), Agência Brasil(b), Agência IBGE(a), Agência IBGE(b), BBC Brasil, Câmara dos Deputados, CNN Brasil(a), CNN Brasil(b), CNN Brasil(c), Exame, Extra, E-investidor(a), E-investidor(b), Fecomercio SP, Firjan, Mercado & Consumo, MoneyTimes(a), MoneyTimes(b), MoneyTimes(c), UOL Economia.

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